Uma pequena leitora...

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Biografia Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu em 19 de Abril de 1886, em Recife-PE, na Rua da Ventura (atual Rua Joaquim Nabuco), filho de Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e Francelina Ribeiro de Sousa Bandeira.
Sua família deixaria o Recife em 1890 para morar no Rio de Janeiro e voltaria dois anos depois para Pernambuco, quando ele viria a estudar no colégio das Irmãs Barros Barreto e depois no Virglinio Marques Carneiro Leão, na Rua da Matriz.
Em 1896 a família muda-se novamente para o Rio, onde frequenta o Externato do Ginásio Nacional (hoje Colégio Pedro II). Neste mesmo ano, com 10 anos de idade, o poeta publica o seu primeiro poema, um soneto em alexandrinos que sai na primeira página do Correio da Manhã.
Em 1903 iria para São Paulo estudar na Escola Politécnica e em 1908 iniciaria sua preparação para se tornar um arquiteto, começa a trabalhar nos escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana e toma aulas de desenho de ornato no Liceu de Artes e Ofícios. Porém um ano depois teria que abandonar os estudos, pois adoece dos pulmões. Devido a este fato vai em busca dos climas serranos do Rio de Janeiro: Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê, Quixeramobim.
Dez anos mais tarde, em 1913, embarca em junho para a Europa a fim de se tratar no sanatório de Clavadel, onde reaprende o alemão que estudara no ginásio. No ano seguinte volta ao Brasil devido à Guerra, vindo morar novamente no Rio.
Perde a mãe em 1916, a irmã em 1918 e o pai em 1920. Neste meio tempo, em 1917 mais precisamente, publica seu primeiro livro “A cinza das horas”
Em 1921 conhece Mário de Andrade, com quem já se correspondia, porém não participa da Semana de Arte Moderna, em 1922. Neste mesmo ano falece seu irmão.
Nos dois anos seguintes, publica poesias, artigos e críticas, e começa a ganhar dinheiro com literatura, por insistência de Mário de Andrade. Em 1931 escreve crônicas semanais para o Diário Nacional e críticas de cinema para o Diário da Noite, do Rio.
Em 1935 é nomeado pelo Ministro Capanema inspetor de ensino secundário e no ano seguinte é homenageado pelos seus 50 anos através da publicação de exemplares um pormas, estudos críticos, comentários e impressões sobre o poeta.
Nos anos seguintes receberia outras nomeações e prêmios literários, reconhecendo seu trabalho como escritor e crítico literário. Viria também a estrear como crítico de artes plásticas no ano de 1941. A obra escrita do autor foi muito vasta e rica, e até hoje é de grande importância para os estudos de literatura brasileira.
Em 1968 Manuel Bandeira falece no Hospital Samaritano, em Botafogo, às 12 horas e 50 minutos, do dia 13 de outubro, sendo sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Biografia de Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade
 nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.


Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, noJornal do Brasil.O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros deDrummondAlguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. EmSentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo(1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

Versos à boca da noite

Sinto que o tempo sobre mim abate 
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva. 
Uma aceitação maior de tudo, 
e o medo de novas descubertas. 

Escreverei sonetos de madureza? 
Darei aos outros a ilusão de calma? 
Serei sempre louco? sempre mentiroso? 
Acreditarei em mitos? Zombarei do mundo? 

Há muito suspeitei o velho em mim. 
Ainda criança, já me atormentava. 
Hoje estou só. Nenhum menino salta 
de minha vida, para restaurá-la. 

Mas se eu pudesse recomençar o dia! 
Usar de novo minha adoração, 
meu grito, minha fome¿Vejo tudo 
impossível e nítido, no espaço. 

Lá onde não chegou minha ironia, 
entre ídolos de rosto carregado, 
ficaste, explicação de minha vida, 
como os objetos perdidos na rua. 

As experiências se multiplicaram: 
viagens, furtos, altas solidões, 
o desespero, agora cristal frio, 
a melancolia, amada e repelida, 
e tanta indecisão entre dois mares, 
entre duas mulheres, duas roupas. 
Toda essa mão para fazer um gesto 
que de tão frágil nunca se modela,
e fica inerte, zona de desejo 
selada por arbustos agressivos. 
(Um homen se contempla sem amor, 
se despe sem qualquer curiosidade.) 


Mas vêm o tempo e a idéia de passado 
visitar-te na curva de um jardim. 
Vem a recordação, e te penetra 
dentro de um cinema, subitamente.

E as memórias escorrem do pescoço, 
do paletó, da guerra, do arco-íris; 
enroscam-se no sonho e te perseguem, 
à busca de pupíla que as reflita. 

E depois das memórias vem o tempo 
trazer novo sortimento de memórias, 
até que, fatigado, te recuses 
e não sabias se a vida é ou foi. 

Esta casa, que miras de passagem, 
estará no Acre? na Argentina? em ti? 
que palavra escutaste, e onde, quando? 
seria indiferente ou solidária? 

Um pedaço di ti rompe a neblina, 
voa talvez para a Bahia e deixa 
outros pedaços, dissolvidos no atlas, 
em País-do-Riso e em tua ama preta. 

Que confusão de coisas ao crepúscolo! 
Que riqueza! sem préstimo, é verdade. 
Bom seria captá-las e compô-las 
num todo sábio, posto que sensível: 

uma ordem, uma luz, uma alegria 
baixando sôbre o peito despojado. 
E já não era o furor dos vinte anos 
nem a renúncia às coisas que elegeu, 

mas a penetração no lenho dócil, 
um mergulho em piscína, sem esforço, 
um achado sem dor, uma fusão, 
tal uma inteligência do universo 

comprada em sal, em rugas e cabelo.

Consolo Na Praia-Carlos Drummond de Andrade

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.

Céu - Manuel Bandeira

A criança olha
Para o céu azul.
Levanta a mãozinha.
Quer tocar o céu.

Não sente a criança
Que o céu é ilusão:
Crê que o não alcança,
Quando o tem na mão

.

Uma Garrafa no Mar de Gaza

Os noticiários estão repletos de notícias sobre os confrontos entre palestinos e israelenses. Tantos são os conflitos, os fracassos nas tentativas de paz! Atentados, homens-bomba, mísseis que partem de um lado para o outro, mas ao ler este livro o leitor se dá conta de que os dramas pessoais, por trás dos bastidores, são totalmente desconhecidos.
Israelenses e palestinos ganham corpo, identidade, ideias, destacam-se do coletivo e se tornam pessoas. E o resultado é um livro leve, saboroso, tocante, fluente, apesar do tema e da carga dramática. Mal percebemos quando questões existenciais dão lugar à descrição do contexto político-social, pois eles se mesclam na voz dos protagonistas, testemunhas dos eventos que povoam a mídia.
O leitor é tocado pelo olhar de dois jovens; é por meio deles que o quadro até então distante, captado pelas antenas da TV, chega finalmente ao coração e vibra em nossa compreensão. A autora tem o poder não só de nos aproximar dessa realidade complexa, mas também de torná-la visual. A impressão que temos, muitas vezes, é a de que estamos presenciando os fatos com nossos próprios olhos.
Tal Levine é uma garota israelense de 17 anos. Ela nasceu literalmente em meio a manifestações pela paz e em apoio ao povo palestino. Seus pais são convictos defensores da convivência pacífica entre os dois povos. A história tem início em setembro de 2003, na cidade de Jerusalém.
É noite e a protagonista está se preparando para dormir quando sua casa estremece. Uma explosão. Nas redondezas, mais precisamente no café Hillel. Entre as vítimas estava a jovem Nava Appelbaum, que horas depois se casaria. No momento do atentado ela estava ali, sentada ao lado do pai.
Este drama pessoal torna-se uma ideia fixa para Tal. Ela não se conforma com a escalada da violência e não quer reagir como os outros, com ódio no coração. Sua vida se desenrolou sempre sob o símbolo da esperança, e é esta pequena chama que a leva a tomar uma decisão arriscada.
A princípio Tal escreve apenas para desabafar, mas em meio à aula de Biologia ela se dá conta de que precisa compartilhar seus pensamentos com alguém. Então decide depositar suas palavras em uma garrafa e a entrega ao irmão, Eytan, soldado a serviço de Israel na fronteira com a Faixa de Gaza, para que a lance ao mar.
Sua intenção é que uma garota palestina, da mesma idade, com a mesma disposição para a tolerância, encontre sua mensagem e estabeleça um vínculo que sinalize para a possibilidade do diálogo entre as duas comunidades. O destino, porém, tem outros planos.
A garrafa é encontrada por um jovem palestino de 20 anos, Naim Al-Farjuk, identificado inicialmente como Gazaman. A interação é difícil, pois ao contrário de Tal ele já não acredita mais na paz, cedeu ao desencanto e a um cansaço mental crônico. Ele reage de forma negativa, zomba de Tal, mas a garota não desiste, e pouco a pouco encontra o caminho que leva ao seu coração.
As mensagens trocadas entre ambos retratam a realidade de Israel e da Palestina como jamais qualquer jornalista ou especialista no Oriente Médio poderia reproduzir. Nem mesmo um israelense ou um árabe com mentes e corações fechados poderiam traduzir tão bem esse impasse, bem como as semelhanças e diferenças entre ambos.
Uma das cenas mais emocionantes é a descrição do assassinato de Yitzhak Rabin, no fatídico dia 4 de novembro de 1995. Nunca a paz esteve tão perto, e a independência da Palestina tão próxima. Mas seus opositores estavam determinados a reverter o quadro, e os anseios de tantos foram mais uma vez frustrados.
Este panorama é apresentado ao leitor primeiro do ponto de vista de Tal, depois sob a ótica de Naim. O evento, por tanto tempo transmitido pela mídia, ganha aqui outra dimensão. O leitor tem a oportunidade de viver esse momento como se estivesse na pele dos personagens, com suas expectativas, desejos, alegrias, decepções, desesperos, desencantamentos.

Charge e Tirinha sobre o tema Bullying